- Holmes?
- Sim, Watson?
- O que é que você tanto vigiava a tarde inteira pela
janela? Você quando está entediado é capaz de implicar até com o cuco do
relógio... E eu nem sei como você pretendia
enxergar algo com aquela fumaceira toda, já que estava fumando compulsivamente.
- Exagero seu, Watson, eu apenas...
- Exagero? Segundo uma
nota do Instituto Fumaçológico Inglês publicada no jornal Londres Gazette, a fonte
da espessa e repulsiva neblina de Londres fica localizada na Baker Street, 221
B. Coincidência, não?
- Não existem coincidências, Watson. Há apenas padrões
sincrônicos co-relacionados parcialmente perceptíveis por nossa limitada
capacidade cognitiva que...
- Mesmo? E como pode me explicar o fato de você usar o
Londres Gazette como alvo para dardos, ahn?
- Mera coincidência, Watson. E eu estava tentando entender a
caoticidade inerente ao comportamento do meu nêmesis, o...
- Professor Moriarty?
- Quase tão ruim, caro amigo. É o...
- Vendedor de fumo? Aquele que aumenta o preço do produto só
para ver você se irritar, Holmes?
- Eu não me “irrito”, Watson. Eu apenas...
- Apenas sapateia como se estivesse tentando esmagar cupins
suficientes para consumirem a Arca de Noé. O fabricante de sapatos Fred
Wilkinson até criou um tema para seus sapatos que diz “Sapatos Wilkinson para
seus pés. Resistem a calor, frio, Sherlock Holmes e todo e qualquer revés!”.
- ... Formulo uma resposta emocional adequada às
expectativas que o salafrário vendedor espera de mim. E estou falando do muitíssimo
atrasado entregador de leite da carroça número 15, também conhecido como Tobias
Stern, morador da Rua...
- Como sabe tanto assim acerca de um simples entregador de
leite, Holmes? Você o andou espionando no seu abundante tempo livre?
- Não preciso me dar ao trabalho de espionar ninguém,
Watson. Eu faço uso de uma rede de meninos informantes que atuam internamente
nos estabelecimentos mais movimentados de Londres. Esta rede me fornece todos
os detalhes acerca das pessoas que preciso manter sob constante vigilância.
- Uma rede interna, Holmes?
- Sim, meu caro amigo. Eu a chamo de “internet”. E ela
ficará ainda melhor quando eu conectar os pcs a ela.
- E o que são estes “pcs”, Holmes?
- São os virtualmente infalíveis pombos correio,
Watson.
- Pombos correio? Eles não são um anacronismo? Vivemos em
plena revolução maquinológica, sabia?
- Os métodos antigos ainda são os melhores, Watson, e esse
leiteiro irresponsável não sabe que a hora do chá aqui na Inglaterra é sagrada
graças...
- Aos relógios suíços?
- Não, meu caro amigo criador de chistes de natureza
altamente questionável, ela é importante graças ao...
- Chá importado da Índia?
- Eu me refiro ao hábito de sentarmos e conversarmos com
polidez e civilidade, Watson, o que ajuda a suportarmos as muitas intempéries
desta atribulada cidade. Hmm... Vejo pelo som de cascos que o senhor Tobias Stern
finalmente nos agraciou com sua esperada visita. Vou buscar nosso leite, caro
colega.
Holmes vai até a rua e, após alguns minutos, retorna com uma
garrafa de leite na mão. Watson lhe pergunta:
- E então, qual foi o motivo do estranho atraso do leiteiro,
Holmes?
- Ele me falou que foi surpreendido por um garoto que atravessou
em sua frente e quase foi atropelado por ele, Watson. E o jovem em questão era um
dos que trabalham para mim na internet e, possivelmente, corria apressado desta
forma para entregar sua mensagem o mais depressa possível.
- Me parece que sua internet é capaz de gerar seus próprios
problemas, Holmes. E você já fazendo mau juízo do pobre homem, não?
- Ao contrário do que dizem, Watson, sou apenas humano.
Parece que minha criação – e minha conduta - precisam de aprimoramentos. Talvez sua
próxima versão não tenha tantas incongruências funcionais autogeridas.
- Façamos um brinde a isso então, Holmes! Ao futuro!
- Brindar com chá? Só você mesmo, amigo. Ao futuro, então. E
ao que quer que ele nos traga.
Amigo Jacques,
ResponderExcluirFez aqui mais uma sátira maravilhosa.
Sou fã da eloquência dos diálogos.
Holmes ficou parecido com o Agente 86, mas com o faro fino para tudo, mas Watson está sempre com a razão.
Acho que o sir detetive ainda não se adaptou à modernidade, mas tem razão em sua crítica, pois, com os pombos-correio não têm spam.
Abraços!
Esses seus diálogos satíricos são muito bons, adorei!
ResponderExcluirAté o mais genial dos homens fica a mercê de suas necessidades e a racionalidade de Holmes? Uma simples defesa contra suas emoções.
ResponderExcluirAplaudo de pé
Essa boa velha internet dando problemas desde sempre...
ResponderExcluirSempre precisando de um reparo aqui, outro ali, ou uma troca de conduta do criador.
Pois é, em tudo que a gente cria vai muito do que somos. Por isso a importância de ser direito e escolher pessoas direitas e seu produtos à venda, hehe. (Na medida do possível, né...)
Grande abraço, Jacques. Boa sexta-feira.
Jacques, meu caro,
ResponderExcluirmuito bom!
Creio que Holmes não só deu emprestou um charme todo especial ao tal cachimbo, o popularizando; mas também inventou um meio de comunicação, digamos um tanto suscetível, e popular também rsrs bela sacada a tua!
Às vezes sinto a internet assim mesmo, como se dependêssemos de uns garotos correndo de um lado a outro, e a julgar em como está o sinal da minha ultimamente, creio que eles estão de carrinho de rolimã tentando subir ladeira acima, e sentados.
Abração!
Ola Jacques,
ResponderExcluirEsse diálogos estão cada vez mais surpreendentes e interessantes meu caro, ainda mais tendo como personagens os investigadores mais famosos do mundo e como pano de fundo uma Londres e suas vicissitudes.
Abraços Flávio.
--> Blog Telinha Crítica <--
Oi Jacques...,
ResponderExcluirQue gostoso de ler seus textos, meu querido amigo...!! Você possui uma criatividade que nos atém, ao ponto de não desejarmos que terminasse ali. Sim, é completo, mas sempre queremos mais de tão bom que é. Nos distrai e nos remete a situações e lugares ótimos de serem lembrados, quando não, necessário de se pensar.
Sim, essa tal internet que muito trabalho nos dá, mas que não ficamos sem ela, rs. É o preço que pagamos por ela...
Beijos e bom final de semana.
PS: Obrigada pelas melhoras e pela atenção. Já estamos curadas, graças a Deus.
jacques,
ResponderExcluirnem o sagrado e intocável holmes escapa à tua sátira :). é verdadeiramente brilhante a forma como articulas planos de diversa natureza e origem para descontruíres o que funciona como leitmotif da atuação de cada "heroi" satirizado. sou fã da escrita de conan doyle, mas não sou menos da tua :)
abraço!
Oi Jac,
ResponderExcluirO Holmes está mais para para o Monk do seriado Monk- um detetive diferente. Estou aqui imaginando se ele sobreviveria a Londres de hoje.Estaria mais para um bobão babaca e debiloide e quem passaria nas fases de American Idol.
Beijos.
Lu
Jacques,
ResponderExcluirRi aqui essa internet... Aliás nao dá pra imaginá-la perfeita não é?
Sua sátira com nosso admirável Homes ficou muito boa e o diálogo perfeito! Sua imaginação corre frouxa!
beijokas doces
Tua imaginação me faz pensar e me sinto imbecil, pois fui lendo e relendo para entender.
ResponderExcluirÉ legal acompanhar, e quando terminou pensei q ficou incompleto, nem sei porquê; eu fiquei aturdida assim acho que é porque nunca assisti um filme de Sherlok Holmes; e o leiteiro? Apenas mais um na rede*...Espionagem é demais pra mim!
Jesus! Fiquei doida com esse tal detetive e com a tua sátira, intrigante, sei "só pra mim; Mery*
Um dia acabo enlouquecendo, às vezes leio várias vezes o que os textos da blogosfera dizem, e fico a ver navios, não ria, sou assim...Gosto do que é de fácil entendimento, vejo filmes bobinhos...q não dão trabalho ao meu cérebro preguiçoso.
Hahaha desculpa é um prazer te ler, eu que sou lerda, trabalho com muitas crianças e acabo ficando sem noção, se bem que eles estão tão espertos, aprendi a entrar na Internet com um aluno, acreditas?
Beijos. Bom fim de semana
Guri de Pelotas!
ResponderExcluirAdorei teu comentário!
Pode me chamar de "guria de Porto Alegre" que é a minha cidade natal.
Grande abraço e ótimo domingo!
Juro que eu esperava a atuação do leiteiro que afinal nem apareceu em cena, mas fui me divertindo muito enquanto o esperava, igual o Sherlock, na janela...Eu lia, e lembrava daquele agente 86 que eu via pela TV há alguns anos atrás...rss
ResponderExcluirAdmiro muito a sua criatividade Jacques, e venho sempre que posso ler suas postagens, pra não perder nenhum lance dos teus contos. São muitos bons!
Bom domingo pra vc, e aproveite bem o feriadão!
Bjos da Lu...
Oi Jacques, tudo bom?
ResponderExcluirPra variar, muito boa a eloquência que coloca em seus textos com o bom humor desenvolvido...fenomenal!
Então..o livro de Laranja Mecânica tive acesso anos atrás mas só recentemente (um ano e meio) consegui comprar o liro que foi relançado. Fiquei encantada com a forma da narrativa que nos deixa desnorteado mas não gostei do capitulo final ocm Alex mais consciente. Se bem que na minha concepção ele ainda gosta da ultraviolência, mas como um vouyeur. Mas a visão do estado dominando também faz total sentido. E é isso que creio que Burguess quis realmente mostrar se levarmos em conta a época em que o livro foi escrito.
Enfim..LM é uma obra deveras complexa que não dá para ser resumida em uma simples análise. Mas eucontinuo priorizando o final de Kubrick..o conceito de uma vez mau, sempre mau.
bjs
hahaahahahahahah... só vc mesmo para colocar Holmes e internet num mesmo texto!
ResponderExcluirFico pensando que deve sair fumacinha da sua cabeça, quando vc cria esses diálogos. Quanta criatividade, menino!!!!! Adoro...
bjksssss doces... ops, essa fala é da Marly!
Então, só beijocas! ;)
Ei Jacques! Adoro seus diálogos. E a ferramenta que nunca sai de moda é o olhar. Excelente descanso e forte abraço!
ResponderExcluirOi Jacques
ResponderExcluirVc é de uma imaginação fora do comum mesmo. Adorei! Holmes e o pc, pombo correio (kkkkkkk). Vc é o cara!
Bjos. e uma boa semana.
Oi Jacques!
ResponderExcluirAh sim..Teatro dos Contos de Fadas tinha uma aura muito bacana e é legal quando vemos os atores famosos que apareciam em certos episdódios. Eu sneti um aperto no peito quando vi o Cristopher Reeve em um deles.
bjs!
A hora do chá, o momento do diálogo, perdido nas telas que nos trazem pombos, muitas vezes cansados de esperar para entregar suas mensagens. Tempos modernos!!!!!!
ResponderExcluirGrande beijo!
OLÁ
ResponderExcluirJACQUES
ESTOU CHEGANDO AQUI PELA PRIMEIRA VEZ E AMEI A SÁTIRA.GOSTEI Holmes.PARABÉNS. UM ABRAÇO
BRISA
Elementar meu caro Jacques,
ResponderExcluiré claro que eu só poderia encontrar por aqui mais uma inteligente sátira, desta vez sobre a nossa velha amiga a internet. Então somos todos suspeitos? Todos que estão na rede dos meninos de Holmes são suspeitíssimos.
Beijos, amigo
Olá, querido Jacques!
ResponderExcluirAh! Que maravilha! Temos o querido Sherlock aqui!
Então, essa discussão de Watson e Sherlock, que belo ponto temos aqui.
Apesar de Sherlock ter bolado tudo de uma maneira engenhosa [e sobrehumana como ele mesmo se comporta, na maioria das vezes], temos aqui, como sempre, as falhas [há alguma coisa infalível nesse mundo? Até Sherlock falhou perante Irene Adler, não é?]. Afinal, os meninos são humanos, dado a erros [as máquinas também!]. E aí, que no final das contas, ele foi vítima da sua própria criatura que atrapalhou algo já clássico e com horário - a chegada do leite.
E no fim, eu penso: antes nossas atividades clássicas, com horário, regras e tudo mais, eram cotidianas e sem desculpas. Mas aí chegou a internet e tudo tem mais um '5 minutos', que viram duas horas, três e por aí. Deixamos de viver um pouco para viver em algo agradável e fantasioso. Seria isso mais para Frankenstein?
T.S. Frank
www.cafequenteesherlock.blogspot.com
P.S: pedindo licença para colocar teu blog nos Hipercafeinados.
Realmente o Sherlock esteve sempre muito a frente de seu tempo.
ResponderExcluirVamos brinde com chá Mate com limão a imaginação do Jacques.
ResponderExcluirParabéns!
Beijos!