sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mestre em criar caso




Este texto se passa durante as gravações de O Último Dragão, clássico trash oitentista onde Leroy Green, mais conhecido como Bruce Leeroy (Taimak), o herói, tem de derrotar Sho’Nuff (Julius Carry), o vilão que mete tanto medo quanto uma placa de trânsito enferrujada e que há tempos controla a A.U.R.A. (Aparência Ultracolorida Risivelmente Anacrônica), para ganhar a mocinha, Laura Charles (Vanity).

Nesta cena, no clímax do filme, Sho’Nuff tenta subjugar Leroy que, usando o antigo método oriental de Namarra, aprende a usar a A.U.R.A. e...

Julius
- QUEM É O MESTRE AGORA, LEEROY?

Taimak
- EU! EU sou o Mestre!

Julius
- Então... Então... Ahn... Eu... Eu... Gente! Alguém aí me dá uma frase, rápido!

O diretor pula da cadeira e grita:
- CORTA! Mas o que...

O assistente que estava segurando um suporte de lâmpada toma coragem e fala:
- Ahn... Que tal “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” Do livro O Pequeno Príncipe? Eu acho demais. Nunca entendi aquele final, mas mesmo assim...

Julius
- É uma boa frase essa e eu também nunca entendi aquele final. Parece coisa daquela maldita série que ninguém entende, Twin Peaks. MAS EU QUERIA UMA FRASE QUE PUDESSE USAR NAQUELA CENA, PÔ!

Assistente
- Aaaahhhh. Mas o senhor também não explica. Agora a gente tem de ler pensamento, é? Então tá. Educação zero, hein?

Julius
- Mas... Mas quem foi que contratou esse aí, hein?

Assistente
- Eu estava passando ali na frente e um senhor me abordou e disse que me daria cinco dólares se eu iluminasse a cena.

Julius
- Ah, é mesmo? E pra dar sugestões furadas, ele te pagou, também?

Assistente
- Não. Pra isso, não, seu Julius. Mas se pagassem...

Julius
- Ah. Então é assim que funciona no seu mundinho mágico, é? É só lhe pagarem que você já sai fazendo? Tipo... Se alguém lhe pagasse para pintar o pintar o teto da Capela Sistina? Você pintaria?

Assistente
- Hmmm. Depende.

Julius
- Depende? Depende do quê, ora essa?

Assistente
- Da cor, né? Você não vai querer pintar o teto de uma capela famosa daquelas de roxo, por exemplo.

Julius
- Deixa pra lá! Pelo visto você é um faz tudo enxerido.

Assistente
- Assim também não, senhor. Não faço tudo, não! Tem coisas que não se faz nem por todo o dinheiro do mundo. Eu tenho dignidade, sabia?

Julius
- É mesmo, é? E o que você não faria por todo o dinheiro do mundo?

Assistente
- Eu nunca usaria essa roupa que o senhor está usando, pra começar. Pelo amor de tudo que é santo. Mas de onde foi que tiraram isso? De um sujeito que foi recusado pra ser vilão do Capitão América ou do Aquaman? Nem o Elton John de porre usaria isso.

Julius
- Exatamente! Ele não usaria porque essa roupa representa a uma ruptura com a estética tradicional. É algo genial demais até pra ele.

Diretor
- Ô Julius, se acalma aí. Que negócio foi esse de tentar improvisar? Estrelismo, é? O rapaz tem razão. Um integrante de banda de heavy metal destes que usam sapato com salto que quase alcança o teto se recusaria a usar essa roupa. Michael Jackson se fosse gravar Thriller 2 nem pensaria em usar isso.

Julius
- Eu apenas queria dizer algo que desse mais profundidade a personagem, diretor. E o roteirista havia me convencido de que este era um filme sério.

Diretor
- Filme sério? Essa foi boa. E sabe porque ele te disse uma asneira dessas?

Julius
- Hmm... Não. Não sei não.

Diretor
- Porque eu dei a ele cinco dólares pra fazer isso! E o único jeito de dar profundidade a alguma coisa nesse filme seria jogando-o dentro de um buraco negro! Agora chega de chilique e continue a cena em que o Bruce Leeroy varre o chão com sua carcaça desarticulada.

Julius
- Poxa.Também não é assim, não.

Diretor
- É assim, sim! Preparar cena de luta, equipe!

Assistente
- VAI LÁ, LEEROY! Dá uma lição nesse mal educado! E mal vestido. He, he, he.

Julius
- AH, MAS EU VOU...

Taimak
- Vai é apanhar de verdade se não deixar o rapaz torcer pra quem ele quiser. E vamos acabar logo com isso que eu quero receber meus cinco dólares de uma vez.

Julius
- Mas... Então... Você também aceitou trabalhar neste filme por cinco dólares, é?

Taimak
- Mas é óbvio que não, ora essa...

Julius
- Ah, bom...

Taimak
- Eu aceitei por cinco dólares mais um autógrafo do Bruce Willis. Ele manda muito bem nas cenas de ação. E sempre com aquele sorrisinho cafajeste. Como é que ele consegue, hein?

Julius
- Mas... Mas... Será que eu fui o único aqui que aceitou trabalhar por uma porcentagem dos lucros de bilheteria ao invés dos malditos cinco dólares?

Silêncio mais do que sepulcral...

Seguido de um exageradamente ridículo ataque de risos do restante da equipe.

Um comentário:

  1. ahauahuahauahau..........Jacques!
    Estava eu fuçando o blog, e como costumo fazer,li a primeira postagem dele.Adorei esse texto! Dá para ver que a boa qualidade de seus diálogos "relativamente sérios" vem desde o início, parabéns!

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