Inglaterra, século XIII. O bando de Robin Hood aparece de
surpresa na frente de uma carruagem que passava pelo meio da Floresta de Sherwood.
Robin grita para o amedrontado nobre no interior do veículo:
- Sei que está aí dentro, homem! Saia agora e pague por sua
passagem não autorizada em nossa bela e aprazível floresta, ahn?
- BELA E APRAZÍVEL? Só se for pra você, biltre! Alguns
poucos metros atrás fomos atacados por um javali raivoso...
- Que já se foi embora, viu? Isso aqui não tem nada de...
- Sim, ele foi embora sim... PORQUE FOI DEVORADO POR UM
URSO! Como se não bastasse isso, agora tenho de lidar com vocês, foras da lei
desalmados!
- Se o fato de não seguirmos as leis de fora faz de nós
foras da lei, que assim seja. E desalmados são vocês, nobres opressores que
abusam da força para extorquir dinheiro dos outros.
- Bem diferente de você neste momento, hein, Lorde Locksley?
- EX Lorde Locksey! Agora sou chamado de Robin Hood!
- Ah, mas que ótimo... Mudando de nome para que as pessoas
não o associem à sua vida anterior de luxo, glória, desperdício, hedonismo e...
- Do que é que... Olhe aqui, homem, de que luxo você está
falando? Aquele castelo onde eu morava era tão frio que até o vento evitava
entrar lá. E tão úmido que os móveis tinham de ser pregados no chão para não
escorregarem. Era um absurdo o que gastávamos com limpeza. Acho que foi isso o
que fez que eu me revoltasse contra a tirania e o pagamento de impostos...
- Isso e mais o fato de quase ter arrancado um olho do
Xerife de Nottingham com esse troço bélico não autorizado aí. Como é mesmo o
nome dessa coisa, hein?
- É chamado de A.R.C.O. (Artefato Repulsor de Camaradas
Ostensivos) e não foi culpa minha não, hein? Essa geringonça mortífera disparou
sozinha! E é claro que o xerife não acreditou em mim, por isso ele me persegue
por... Mas espere um pouco, só quem sabia disso era...
- Eu! Seu amigo de caçadas e baladas! Lorde Rupert Kensigton
! Não está me reconhecendo, Locksley?
- É HOOD! Robin Hood! E não tem como reconhecê-lo com a face
oculta atrás desta cortina, meu caro amigo, aliás, ex-amigo...
- Ora, mas o que é isso? Ex-amigo, nada! Lembra-se das
corridas de pajens que fazíamos? HÁ! Eram por demais divertidas! Vestíamos os
pobres mancebos com peles de urso e eles corriam na lama...
- Tentavam correr, não? Esse era o tipo de abuso tirânico
que me fez...
- Um momento Robin! O que ele quis dizer com “balada”?
- Balada, meu caro cúmplice incógnito, é como são chamados os
poemas líricos que são cantados nos festejos, e no dialeto provençal, “ballada”
quer dizer “dança”...
- Era isso é? Eu achava que balada vinha do fato de
oferecermos quitutes feitos de mel e essência de frutas, que chamávamos “balas”
e oferecíamos às donzelas em sinal de amizade... Veja só, João Pequeno, vivendo
e aprendendo...
- Amizade, Locksley? Faz-me rir, homem! Lembro-me que você
era especialista em oferecer balas às jovens e cantar versos ao mesmo tempo, e
você chamava isso de “cantada”...
- Por minha fé, Robin, para um nobre você não era nada... Nobre...
- Mas eu mudei, João! E basta de reminiscências, Rupert! Meu
passado... Já passou! Agora pague um singelo tributo para que possamos
escoltá-lo em segurança para fora daqui, sim? E lembre-se que o dinheiro doado à nossa causa servirá ao bem comum...
- Bem comum, meu caro? E como chamam isso? Comunismo? Muito bem, então. Quem tem o poder tem a razão, não é mesmo? Eu só lhe pagarei quando você me pagar o que me deve da última justa, que você nunca me pagou, lembra?
- Bem comum, meu caro? E como chamam isso? Comunismo? Muito bem, então. Quem tem o poder tem a razão, não é mesmo? Eu só lhe pagarei quando você me pagar o que me deve da última justa, que você nunca me pagou, lembra?
- Mas eu estava sofrendo de mau olhado, catapora...
- Gripe, dor de ouvido e mais um monte de doenças que ainda nem tem nome, eu lembro. Arranje outra desculpa, Locksley!
- Ai, ai... Vamos fazer assim, Rupert, eu deixo você passar em segurança desta vez e você esquece minha dívida, feito?
- Gripe, dor de ouvido e mais um monte de doenças que ainda nem tem nome, eu lembro. Arranje outra desculpa, Locksley!
- Ai, ai... Vamos fazer assim, Rupert, eu deixo você passar em segurança desta vez e você esquece minha dívida, feito?
- Todas elas, Locksley?
- SIM! TODAS ELAS, RUPERT! E é.... Ah, deixa pra lá...
- Feito, então, amigo! Até mais ver! Fique com Deus!
- Meus amigos de verdade me deixam mais perto de Deus,
Rupert, até mais ver! Ao que parece, é verdade o que dizem que a inteligência
vence a força...
- A força e à força, não Robin? Pelo jeito estes seus amigos
caros de ontem estão nos custando caro hoje! O que vamos dizer pras nossas
esposas?
- Podemos caçar...
- Javali de novo? Minha esposa vai correr atrás de mim com
um machado de novo se eu...
- Está certo, João. E cervo, então? Sua esposa tem algo contra o gosto deles?
- Porque me pergunta isso, Robin? Minha esposa não manda em mim!
- Me desculpe, João. Eu quis dizer VOCÊ tem algo contra carne de cervo?
- Ahn... Não. Nada contra, Robin.
- Ótimo!
- Porque me pergunta isso, Robin? Minha esposa não manda em mim!
- Me desculpe, João. Eu quis dizer VOCÊ tem algo contra carne de cervo?
- Ahn... Não. Nada contra, Robin.
- Ótimo!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk É isso que dá ter um rabinho escondido. Em benefício próprio Hood deixou o amigo pra quem devia ir sem pagar a taxa! Robin Hood caiu no meu conceito sabia?? (Se bem que eu sempre pensei nele como aquele "pão" do Kevin Costner e esse não dá pra desconceituar né?)
ResponderExcluirE a esposa corre atrás desse amigo frouxo com um machado e ele ainda diz que ela não manda nele???kkkkkkkkkkkkkk Se mandasse ele nem mais existia então.
Beijokas doces!
Jac,
ResponderExcluirQuando comecei a ler pensei que quem telhado de vidro, deve ficar cuidadoso com a chuva de granito, ou seja, entra mudo e sair calado. Difícil? Pense nos nossos políticos, jatinhos, presentes, etc e pergunta-se quem vai acreditar em CPI? Só Branca de Neve, mas sem os sete anões.
Como sempre, humor e inteligente.
Beijos.
Lu
Oi Jacques,
ResponderExcluirRsrsrsss... Mas desde quando Robin Hood é/foi exemplo de bondade e honestidade...?! Este homem é exemplo de revolta pura!! Não mede consequências, tira de quem bem entende para dar para quem bem entender...
O Governo é um só, perante as suas multiplas facetas, meu caro!!Leva vantagem em tudo..., rs.
Muito bom...
Beijos,
Oi, amigo Jacques!
ResponderExcluirEssa sua versão de Roben Hood é bem criativa e divertida.
Nunca ninguém a viu por essa ângulo. Tirar dos ricos para dar para aos pobres, Lampião foi muito mais original e não era demagogo e hipócrita com o Roben, que usava os miseráveis para se vingar de seus desafetos.
Gosto muito também de seus personagens questionadores porque são lúcidos e inalienados.
Parabéns alumbramento!
Abraços!
Jacques,
ResponderExcluirótimo como sempre!
O tom irônico, os personagens que discutem pontos de vista, já era conhecida faceta tua, agora mais uma marca registrada, tuas siglas hahaha! Muito boa essa.
Mas as "corridas de pajens", hahaha! estou rindo até agora, imaginando a cena..., acho que teus escritos estão ainda mais visuais do que eram, uma evolução na minha opinião. Muito bom mesmo!
Mas, ahhhh... o Robin Hood era um dos meus herois... :( agora sobrou pouco... rsrs
Abração, amigo!
PS.: Te passei mensagem no face. Se puder responder, mas nunca conecto pela manhã.
hehehhehe...
ResponderExcluirÉ muita criatividade junta!!
Ficou super diferente e tem um tom gostoso de se ler!
;D
Jacques,
ResponderExcluirGosto muito dessa pitada de ironia que você coloca sempre nos seus dialogos.
Sua criatividade me impreciona , e suas escolhas pelos personagens é fantática.
Eu gostava do Robin Hood, mas agora meus conceitos mudaram hahaha.
Abraço !
Salve Jacques,
ResponderExcluirBom essa faceta de Robin Hood eu ainda não conhecia, mas fazer oque...rsrsrsrsrsrsr. É a vida, as vezes achamos que conhecemos nosso personagem favorito tão bem, e ele apronta uma dessas.
Valeu pelo texto.
Saudações cordiais,
Leandro CHH
Ter o rabo preso nunca é bom. O passado que condena sempre aparece para assombrar! Mas, posso confessar algo? Vc nãoooooo vai rir de mim?????? Promete??? Proooooomete??? Quando li o título de sua postagem "dois lado da flecha", pensei de imediato "eita, o Jacqueszinho vai fazer alguma piadinha com o termo "cortar pelos dois lados"(usa-se essa expressão aí?? Aqui ela tem um significado bem danado!)... kkkkkkkkkkkkkkkkk ... poxa, eu tô com a mente muito apurada(ou seria poluída)!
ResponderExcluirGostei... como sempre, divertidíssimo texto!
bjks
JoicySorciere => Blog Umas e outras...
Muito bom! Bravo! Lembra Getúlio Vargas que também "pegou" fama de bonzinho. Bom fim de semana. Abraço!
ResponderExcluircaro amigo,
ResponderExcluirpodemos fugir de tudo, menos do que somos/fomos, verdade?
essa da corrida de pajens está uma pequena maravilha; recorda-me daquela "história mais louca do mundo", de mel brooks, em que o rei luís XIV (creio ser ele mesmo, tendo em conta que vi o filme na meninice) dizia, numa caçada, a um nobre amigo que amava o seu povo como nenhum outro e fizera. entretanto, e após pausa, grita "solta" e uma catapulta lança um plebeu pelo ar enquanto ele procura acertar-lhe com um projetil. :)
abraço!
p.s. em braga tivemos um robin hood, também, no século XIX; chamava-se zé do telhado e foi imortalizado num livro pelo grande aquilino ribeiro. ao que consta, nunca fora nobre, por isso não deve ter experimentado as delícias das corridas de pajens - ainda que, vivendo no monte, a lama fosse muita :)
abraço renovado!
Oi Jacques,
ResponderExcluirestes debates que você promove entre seus personagens são o máximo.
A melhor versão de Robin Hood que já vi é esta sua, pelo menos mais realista é. Todos perdem as ideologias e a coletividade quando se trata de proteger a própria pele.
Abraços
É isto que eu gosto muito em teus posts, esta ironia cheia de acidez que transborda deles... Acho muito interessante a forma com que você desconstrói o personagem para usá-lo a favor de sua narrativa! Excelente!
ResponderExcluirOlá meu amigo!
ResponderExcluirMais um diálogo interposto por sinônimos incríveis, com a essência que seus contos costumam ter: o humor.
Valeu Jacques! Até a próxima... Grande abraço cara!
Anselmo
hahahahha adorei!
ResponderExcluirOla Jaques,
ResponderExcluirÉ, como dizem por ai: "o passado condena". Achei bem interessante como conseguiu debater a ideia dentro da narrativa.
Bem legal e estou seguindo.
Abraços, Flávio.
--> Blog Telinha Critica <--
JACQUES....TUDO BOM? EU NÃO SOU BURRA..SOU DESLIGADA RSRS
ResponderExcluirAO ABRIR A PAGINA DO SEU BLOG DEMOROU APARECEO O TITULO E DEMOROU PARA CARREGAR A PAGINA...
AI EU FIQUEI NA IMAGEM PROCURANDO OS DOIS LADOS DA FLEXA..RSRSRSRS
JURO...RSRS
MAS OLHA....VC SEMPRE DA UM SHOW NAS SUAS ESCRITAS.
PERDI UM HERÓI SNIFF..... MAS GANEHI BOAS RISADAS.
PARABÉNS PELO SEU JEITO UNICO E INTELIGENTE DE ESCREVER.
BJS
Esses heróis não são mesmo confiáveis. Quando lia, passava seus diálogos para a nossa realidade, onde não conseguimos ver passados desnudados com esse humor incrível que coloca em seus textos.
ResponderExcluirGrande beijo!
(Saiba que é um prazer ler suas postagens. Como me ausentei, pedi desculpas a todos que visitei, pelo atraso. )
Aqui na minha cidade tem um montão de Robins Hood'ss...Só que eles fazem o processo ao inverso do da estória. Eu, que tinha, sim, TINHA, uma visão romântica do verdadeiro Robin, olhava com desdém pros da minha cidade. Cresci, amadureci, e o meu conceito sobre o velho Robim, caiu consideravelmente. Agora lendo o teu post, dei muitas risadas aqui sozinha, a essa hora da madrugada, do diálogo que você criou maravilhosamente! O teu Robim Hood não me pareceu assim, tão bandido! E, fez sucesso, pelo número de comentários...rssss..
ResponderExcluirBeijinhos da Lu...
Gosto de como você pega personagens conhecidos e refaz a história. Além de ter senso de humor :)
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